Quartetos para a minha avó


Que dia estranho, Maria
faz um sol nocauteador lá fora
cujos raios me alcançam
indiretamente

Ultrapassam os buracos 

que por entre folhagens
nascem ramos tortos tão
mais encorpados que eu

Mas aqueles raminhos 

madeira úmida e esguia
não devem ser mais resistentes
que meu corpo

Amontoado de ossos

meu corpo dono
de uma fragilidade
burlesca

Insinua aos olhares

apressados
alguma bruteza
em minha aragem

Se decido mirar

essas árvores
de perto
sento à varanda

e por todas as janelas

se vê árvores
e por todas as aberturas
se vê o jardim

Raios que queimam, o sol

cora-me a maçã do rosto
e quase não mais respiro 
com passada mente

e não demora

me abstenho
e não demora
absinthium

Vê só

Maria
neste mundo
lidamos com tolos

Sabem todos

de quantos ramos
e sombras
são feitas as árvore

Sabem também

que mesmo a mais frágil
ou a menor delas
guarda a sua utilidade

Abrigam os artrópodes

em dias de chuva
e são alimentos
para os outros artrópodes

As maiores desse bosque

bem ao meu lado
agora fazem sombra
no hospital psiquiátrico

Tão silencioso

primorosamente espaçoso
mais parece
Inabitado

Kamila Caldas

(4/5/2017)












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